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domingo, 13 de novembro de 2011

Berlusconi caiu pela economia

Marcado por corrupção e escândalos sexuais, Berlusconi caiu pela economia

Magnata das comunicações dominou vida política do país desde 1994, quando foi eleito premiê pela primeira vez

O magnata das comunicações Silvio Berlusconi, 75 anos, dominou a vida política da Itália desde 1994, quando foi eleito premiê pela primeira vez. As polêmicas que envolveram seu nome, como os escândalos sexuais e os casos de corrupção, foram pouco a pouco ruindo sua imagem de líder, mas não foram suficientes para tirá-lo do poder.
Foi a pressão da União Europeia e a desastrosa administração da crise econômica no país os principais fatores para a renúncia neste sábado de Berlusconi, que deixa o cargo com uma popularidade de 22% - a menor da história.
Nascido em 29 de setembro de 1936, Berlusconi vem de uma família pequeno-burguesa de Milão e demonstrou vocação para os negócios desde a adolescência, quando estudava no colégio dos Salesianos.

Sempre contou com um grupo de amigos íntimos, como Fedele Confalonieri, a quem confiaria, mais tarde, as rédeas da Mediaset, a poderosa empresa de televisão de seu império industrial Fininvest, que compreende 500 sociedades, entre elas a Editora Mondadori.
Vendedor de aspiradores de pó nos anos 1950, Berlusconi formou-se em Direito em 1961, dedicando-se ao setor de construção e dando início a uma carreira ímpar.
Condecorado como “Cavaleiro do Trabalho” aos 41 anos, “Il Cavaliere” Berlusconi irrompeu na política em 1993, depois que os casos de corrupção “Tangentopoli”, ou “Mãos Limpas”, derrubaram uma classe política inteira.
Em poucas semanas, criou um partido, o Forza Italia, composto em grande parte por executivos da Fininvest que pouco sabiam de política. Aliou-se aos neofascistas do Movimento Social Italiano, transformado na Aliança Nacional liderada por Gianfranco Fini, e à controvertida Liga Norte de Umberto Bossi. Em 28 de março de 1994, tornou-se premiê.
Em novembro daquele ano, Berlusconi colocou à venda três canais de televisão depois de ter sido notificado por promotores de que a Fininvest estava sob investigação por suspeitas de suborno e sonegação de impostos. Um mês depois, abandonado por Bossi e pelos aliados da Liga, o visceral anticomunista foi pressionado a renunciar. Enfraquecido, perdeu as eleições parlamentares em 1996 para a coalizão de centro-esquerda liderada por Romano Prodi.
Hábil na arte de apresentar-se como “vítima”, sempre investigado pela Justiça por denúncias de corrupção, Berlusconi foi construindo com paciência a imagem de um “líder trabalhador”, com a qual venceu as eleições de 2001, apoiado pela mesma coalizão que, em 1994, o levou ao poder e que foi rebatizada como A Casa das Liberdades. Seus maiores compromissos eram reduzir os impostos, criar empregos e melhorar a infraestrutura do país.
Apesar das críticas e controvérsias despertadas por seu mandato entre 2001 e 2006 e das divisões internas dentro da própria coalizão – que quase se desintegrou –, Berlusconi tornou-se o líder máximo da direita italiana.

Berlusconi também é conhecido por suas frases polêmicas, indelicadas e até constrangedoras. Em setembro de 2001, ele afirmou que a civilização ocidental era superior à islâmica e disse que o Afeganistão não poderia ser chamado de nação. Em novembro daquele ano, após os ataques do 11 de Setembro, ele enviou tropas italianas ao país para participar do esforço de reconstrução depois da invasão liderada pelos Estados Unidos.
Amigo próximo do presidente George W. Bush (2001-2009), em 2003 apoiou a Guerra no Iraque e mandou um contingente ao país após a captura de Saddam Hussein, apesar dos protestos nas ruas italianas contra a operação.
Em 2005, Berlusconi renunciou ao cargo para remodelar seu governo, após ter perdido as eleições regionais. Perdeu a votação nacional para Prodi, em 2006, em uma das disputas mais acirradas da história da Itália. Ele se recusou a reconhecer a derrota e alegou irregularidades.
Em dezembro, fez uma cirurgia no coração para colocar um marcapasso três semanas depois de ter desmaiado enquanto discursava na região da Toscana.
Com um golpe estratégico, reunificou suas hostes sob uma só bandeira e um partido único, o Povo da Liberdade, fruto da fusão entre a Aliança Nacional (AN) e sua própria chapa, Forza Itália (FI) – uma jogada que permitiu a ele, em 2008, chegar novamente ao poder.
Em 2009, foi estimado que, em 20 anos, Berlusconi enfrentou 2,5 mil audiências em 106 julgamentos. Seu governo passou por reformas que reduziram o prazo de prescrição para crimes como fraude, mas parte de uma lei que concedia imunidade temporária a ele e outros ministros foi derrubada em 2010.

<span>Silvio Berlusconi, líder do partido Forza Italia, discursa em comício durante campanha (25/3/1994)</span> - <strong>Foto: Reuters</strong> <span>O então presidente Vladimir Putin (2000-2008) e Silvio Berlusconi riem durante jantar informal na residência de Zavidovo, na Rússia (03/02/2003)</span> - <strong>Foto: Reuters</strong> <span>Ex-líder líbio Muamar Kadafi com o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, em Roma (10/06/2009)</span> - <strong>Foto: Reuters</strong> <span>A ex-mulher de Sivio Berlusconi, Veronica Lario, ao seu lado</span> - <strong>Foto: AP</strong> <span>Silvio Berlusconi cumprimenta a primeira-dama dos EUA Michelle Obama e o presidente Barack Obama ao chegar em Pittsburgh para reunião do G20 (24/09/2009)</span> - <strong>Foto: Reuters</strong> <span>Policiais ajudam Berlusconi após o premiê ter sido agredido com uma estatueta durante comício em Milão (13/12/2009)</span> - <strong>Foto: Reuters</strong> <span>Representação de Berlusconi nas ruas de Valência (20/04/2010)</span> - <strong>Foto: AP</strong> <span>Berlusconi concede entrevista coletiva (13/05/2010)</span> - <strong>Foto: AP</strong> <span>Presidente francês Nicolas Sarkozy e o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi se cumprimentam em L'Áquila, na Itália (15/05/2010)</span> - <strong>Foto: Getty Images</strong> <span>Após a foto oficial, Barack Obama, presidente dos EUA, Silvio Berlusconi, presidente da Itália, e Dmitri Medvedev, presidente da Rússia, se divertiram (16/05/2010)</span> - <strong>Foto: AP</strong> <span>Berlusconi abraça senhora que ficou desabrigada após terremoto na Itália (16/05/2010)</span> - <strong>Foto: Reuters</strong> <span>Primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi tira foto com o presidente Lula e jogadores de futebol brasileiros do Milan, na Villa Madama, em Roma (28/05/2010)</span> - <strong>Foto: AP</strong> <span>O ex-presidente brasileiro Lula encontra-se com Berlusconi em São Paulo (29/06/2010)</span> - <strong>Foto: Divulgação</strong> <span>Silvio Berlusconi é visto atrás de microfones antes de discursar no Senado italiano (30/09/2010)</span> - <strong>Foto: AP</strong> <span>Apoiadores de Berlusconi sentem fraqueza política de líder (17/11/2010)</span> - <strong>Foto: AFP</strong> <span>Hillary e Berlusconi participam de cerimônia em Astana, no Cazaquistão (01/12/2010)</span> - <strong>Foto: AFP</strong> <span>Angela Merkel recebe Silvio Berlusconi em Berlim (12/01/2011)</span> - <strong>Foto: Reuters</strong> <span>Jovem marroquina "Ruby" nega ter tido relações sexuais com Berlusconi (15/01/2011)</span> - <strong>Foto: AFP</strong> <span>Mulher segura cartaz que pede a prisão do primeiro-ministro italiano (13/02/2011)</span> - <strong>Foto: AFP</strong> <span>Partidária de Berlusconi mostra calcinha em frente ao tribunal em Milão (06/04/2011)</span> - <strong>Foto: AP</strong> <span>Silvio Berlusconi vota na Itália (29/05/2011)</span> - <strong>Foto: AFP</strong> <span>Berlusconi olha para Dilma, também em encontro do G20, em Cannes (03/11/2011)</span> - <strong>Foto: Reuters</strong> <span>Berlusconi olha para Cristina Kirchner, presidente da Argentina, durante encontro do G20 em Cannes, na semana passada (03/11/2011)</span> - <strong>Foto: AP</strong> <span>Italianos foram às ruas neste sábado para pedir a saída de Berlusconi (05/11/2011)</span> - <strong>Foto: Reuters</strong> <span>Berlusconi acena aos jornalistas após deixar o palácio presidencial em Roma, onde se reuniu com Giorgio Napolitano, antes de anunciar renúncia (08/11/2011)</span> - <strong>Foto: AP</strong>
No mesmo ano, a ruptura com seu aliado Gianfranco Fini, atual presidente da Câmara, ocorreu em um momento particularmente delicado, em meio a revelações sobre as proezas sexuais de Berlusconi e desprestígio moral.
Os excessos do magnata no exercício do poder motivaram críticas e protestos nos meios de comunicação, entre os industriais, e inclusive da igreja católica.Tornaram-se comuns os protestos contra Berlusconi nas cidades italianas, por conta dos altos índices de desemprego e as denúncias de corrupção.
O premiê chegou a ser atacado diretamente no rosto em um comício mais tenso na cidade de Milão em dezembro de 2009. O cidadão Massimo Tartaglia atirou contra Berlusconi uma réplica em miniatura da catedral da capital lombarda, obrigando o premiê a passar por uma cirurgia facial.
Escândalos sexuais
Em outubro de 2010, foi publicado pela imprensa que Berlusconi teria ligado para uma delegacia pedindo pela soltura de Karima “Ruby” Em Mahroug, de 17 anos. A marroquina, que estava presa por roubo, afirmou que participava de festas organizadas pelo premiê.
Berlusconi foi convocado a comparecer ao tribunal em 15 de fevereiro acusado de ter tido relações sexuais com a jovem – o que o premiê e Ruby negam - e de abuso de poder.
Mas esse não era o único escândalo sexual que já perseguia Berlusconi.
Em maio de 2009, sua segunda mulher, Veronica Lario, anunciou que pediu o divórcio depois de ele ter sido fotografado em uma festa de aniversário de 18 anos de Noemi Letizia, uma aspirante à modelo. Ela também o acusou de escolher as candidatas ao Parlamento Europeu com base na aparência física. Berlusconi enfrentou outros escândalos quando foram publicadas fotos de mulheres de topless e homens nus em sua residência na Sardenha.
Em julho de 2009, a mídia italiana divulgou supostas gravações de áudio do premiê e da prostituta Patrizia D’Addario. Na fita, Patrizia dizia que ela e outra mulher eram pagas para ir às célebres festas privadas de Berlusconi. O primeiro-ministro italiano sempre fez questão de declarar que, apesar de não ser “nenhum santo”, nunca pagou para fazer sexo com uma mulher.
Sempre bronzeado, com liftings e implantes capilares, Berlusconi, casado duas vezes e pai de cinco filhos, faz questão de não aparentar seus 75 anos de idade.

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